Em tempos em que repensamos o impacto do nosso comportamento e da mídia na infância, é urgente refletir: onde começa o desrespeito com a criança? Muitas vezes, ele é cultural, tão comum que passa despercebido. E me pergunto: será que a aceitação de relações tóxicas na vida adulta tem raízes em uma educação desrespeitosa?
Desde bebês, aprendemos regras sociais e comportamentos esperados. Meninos e meninas sentem o peso dos padrões impostos — como o ideal de masculinidade ou a cobrança sobre como uma menina deve se portar. Muitas vezes somos ensinados a calar sentimentos, a obedecer sem questionar, a “aceitar” porque é da família ou porque é mais velho.
Quem nunca ouviu na infância: “Isso é assunto de adulto”, “Você não entende ainda”? Essas frases, por mais comuns que pareçam, reforçam uma educação que invalida a criança como sujeito.
Quando lemos os Direitos das Crianças e Adolescentes, nos deparamos com itens básicos: alimentação, higiene, saúde... Coisas óbvias, mas que só estão ali porque ainda são negligenciadas. E o respeito também está entre esses direitos.
Muitas vezes, repetimos padrões sem perceber. Agimos no automático, porque foi assim conosco. E não estamos falando de permissividade, mas de respeito real: escutar, observar, validar, ensinar com empatia.
Sim, sei que esse é um tema polêmico. Ainda há quem defenda uma criação baseada no medo ou na obediência cega. Mas educar com respeito não é abrir mão dos limites. Pelo contrário: é justamente colocá-los de forma mais consciente.
Então... tomaram minha filha do meu colo. E agora?
Minha resposta pode parecer simples: tenha bom senso.
Observe o contexto:
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Quem foi a pessoa?
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A criança se sentiu segura ou desconfortável?
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Foi algo pontual e carinhoso ou uma imposição desnecessária?
Se houve desconforto, pontue. Se necessário, converse com calma com quem agiu. E mais importante: converse com seu filho. Mostre que ele tem voz. Que pode (e deve) ser respeitado desde cedo.
Mas então, posso deixar meu filho fazer tudo o que quer?
Claro que não. Respeitar uma criança não significa ausência de limites. Rotinas como escovar os dentes, tomar banho, se alimentar bem são inegociáveis. Mas se ela não quiser cumprimentar alguém, não quiser sair do seu colo ou preferir não conversar, está tudo bem. São escolhas sobre o próprio corpo e espaço.
Esse tema sempre gera reflexões profundas na terapia. O respeito que oferecemos hoje às crianças molda o tipo de amor e aceitação que elas vão esperar (e permitir) no futuro.
Você gostaria de ser tratado da mesma forma que trata uma criança?
Até a próxima. Te vejo na terapia.
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