Nº V - Entre Sessões e Silêncios: Luto e Cuidado se encontram no cotidiano

Já fazia um mês desde a perda da avó. Um mês que passou devagar, com uma rotina arrastada e pedidos de socorro em silêncio — sem resposta. Naquele dia, ela tinha terapia. Chegou cansada, sem saber muito o que dizer, sem saber nem o que queria dizer.

Foi então que entendeu: o cansaço estava mais pesado que o normal, a solidão mais densa, e a sensação era de que estava perdendo a luta, devagar. No fundo, ela já sabia. Sabia que aquele 21 de junho nunca mais seria o mesmo. E que as memórias não viriam com a mesma emoção.

Talvez, no fundo, já esperasse por isso. Lutar contra só a fez gastar energia e disponibilidade em vão. Ao perceber que estava na tal “recaída”, se acolheu. Chorou. E se perguntou por que estava deixando aquilo voltar a dominá-la. No meio de tudo, ficou chateada. Com raiva de si mesma. E, ao mesmo tempo, sentiu compaixão. Afinal, não é simples carregar a responsabilidade de ter estado presente nas últimas horas de vida de alguém tão importante.

Percebeu que não estava sendo honesta consigo. Estava se comparando, exigindo de si uma régua de perfeição que ninguém alcança. Se viu sozinha, desamparada... e com medo.

Depois daquela sessão, parou um pouco. Respirou fundo. Voltou para casa. Olhou suas plantas — que brotavam mesmo com a terra seca, algumas com pulgões e ervas daninhas — e viu que, apesar disso tudo, elas dançavam felizes com a brisa fria. Naquela hora, ela se sentiu como suas plantas. Dormiu pensativa com essa imagem. E, quando amanheceu, após o desjejum, calçou as luvas de jardinagem, preparou o inseticida e foi cuidar do seu jardim.

Nas horas que passou ali, sentiu o aperto no peito aliviar um pouco. Sentiu o cuidado preenchê-la. E conseguiu perceber, também, as pessoas à sua volta que pediam, em silêncio, por sua conexão.

Naquele dia, ela começou a se lembrar, de novo, de quem era, por debaixo da tempestade.

Grata por ler !

💋💋

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