Nº VI Entre Sessões e Silêncios - Não dar conta de tudo: o alívio de aceitar ajuda

Ela decidiu buscar ajuda com mais profissionais. Começou a fazer uso de algumas medicações. E, durante as conversas, percebeu que a perda da avó tinha sido apenas o gatilho — o estopim que escancarou o que já estava acontecendo há muito tempo.

Maternidade, casa, trabalho, casamento, família... Eram muitas responsabilidades ao mesmo tempo. E quando começaram a diminuir, quando enfim começaram a fluir com mais leveza, foi como se o corpo e a mente dissessem: agora é seguro desmoronar.

Era como se aquele fosse o momento certo para colocar pra fora o que estava acumulado há meses — talvez anos. O pedido de socorro, que antes vinha em sussurros, agora veio com força. E ele foi ouvido.

Com um pouco de tristeza, ela reconheceu: não daria conta sozinha. E tudo bem. Era hora de aceitar. De buscar apoio. De entender que não é fraqueza pedir ajuda — é lucidez.

Começou, então, um novo ciclo. Um novo desafio. Uma nova realidade.
Aprender a lidar com os efeitos colaterais das medicações.
Com as alterações de humor, com a mente acelerada, com a confusão dos dias.
Aprender a observar a própria rotina, o próprio sono.
E, sobretudo, a se priorizar mais.

Comprou sementes novas.
Escolheu novos vasos.
Teve coragem de costurar de novo.
Consertou roupas que estavam ali, esperando... não só o reparo, mas também o renascimento.

Iniciou os preparativos para o aniversário da filha, que será comemorado na escola.
Começou a olhar para o trabalho com mais ânimo, com mais esperança.
Sentiu que estava, aos poucos, se reorganizando por dentro.

E, nesse caminho, compreendeu algo essencial:
às vezes, não dar conta de tudo é exatamente o que salva.
E que olhar para si, com carinho e coragem,
é talvez o maior ato de amor que se pode oferecer —
amor por si mesma, amor que se é.

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